. O Cromatógrafo a Líquido
O
cromatógrafo a líquido (mais comumente conhecido pela sigla inglesa da técnica,
HPLC (High Performance Liquid
Chromatography; em português: Cromatografia Líquida de Alto Desempenho), é
um instrumento mais simples que o cromatógrafo a gás nos seguintes aspectos:
a) só possui um canal analítico, enquanto CG’s podem ter até quatro
canais;
b) é modulado, isto é, sistema de bombeamento e detetor são
independentes, o que facilita a substituição de detetores;
c) opera geralmente à temperatura ambiente;
A Figura 4.3 é um
diagrama em blocos de um CL típico. Cada bloco é descrito a seguir:
Figura 4.3 -
Diagrama em blocos de um HPLC típico
|
a)
Reservatório de Fase Móvel
A Fase Móvel (um
líquido puro ou uma mistura de composição definida) deve ser filtrada em
membranas com 0,46 mm de diâmetro de poros e desgaseificada (ver
próximo item).
b)
Sistema de desgaseificação
A
Fase Móvel deve ser desgaseificada, para evitar a formação de bolhas, as quais
podem provocar cavitação (com
conseqüente dano à bomba) ou gerar picos
falsos, ao passarem pela célula do detetor. São conhecidas várias técnicas
de desgaseificação:
-
aquecimento com agitação;
-
borbulhamento de gás hélio;
-
ultra-som;
-
vácuo
c)
Bomba
O bombeamento da
Fase Móvel é realizado por uma bomba controlada por um microprocessador, o qual
pode alterar a velocidade de sucção
(para evitar vaporização de fase móvel mais volátil) e a vazão (importante quando a análise é realizada com Gradiente de
Polaridade, em cujo caso há necessidade de uma segunda bomba; ver mais
adiante).
d)
Válvula de injeção
A amostra é
sempre introduzida com auxílio de uma válvula, porquanto a pressão de trabalho
nunca é menor que 50 atmosferas .
e)
Coluna
As
colunas empregadas em CL são retas, uma vez que seu comprimento raramente
ultrapassa 30 cm, ocupando portanto muito pouco espaço no equipamento.
f)
Detetor
Os
detetores utilizados em CL serão descritos na próxima seção.
g)
Sistema de aquisição de dados.
Os sistemas de
aquisição de dados empregados em CL são exatamente os mesmos empregados em CG,
ou seja, registradores, integradores ou microcomputadores .
Gradiente de Polaridade
Quando o CL dispõe de apenas uma bomba, é evidente
que a fase móvel tem uma composição constante, do início ao fim da análise.
Nessa situação, a polaridade da mesma também é constante. Diz-se então que o
processo é isocrático. Quando
dispõe-se de duas bombas (ou mais), é possível variar a composição da fase
móvel, colocando-se em cada reservatório um líquido de polaridade diferente. O
microprocessador altera a vazão de cada linha de líquido, de modo que a partir
do ponto de confluência a vazão seja constante. Nesse caso, diz-se que o
processo ocorre com gradiente de
polaridade. Substituindo-se temperatura por polaridade.
4.3.
Detetores
4.3.1. Generalidades
Os
detetores mais empregados são do tipo diferencial. A sua resposta (R), dada
pelas áreas relativas dos picos, é proporcional à concentração de cada
componente (detetores de condutividade térmica) ou à velocidade de fluxo de
massa do componente (detetores de ionização):
Dentre os
detetores dos tipos descritos acima, destacam-se, pelo maior uso, os seguintes:
detetor de condutividade térmica (DCT), detetor de ionização de chama (DIC) e
detetor de índice de refração (DIR), embora existam outros, de mais restrita
aplicação.
A
escolha do detetor é importante e depende do material a ser analisado. As
principais características dos detetores, que devem ser consideradas quando da
seleção do detetor mais apropriado, são as seguintes:
- Sensibilidade
- Nível de ruído
- Resposta
|
- Faixa de linearidade dinâmica
- Custo/vida útil
- Universalidade
|
- Especificidade / Seletividade
- Condutividade térmica (para
DCT)
|
4.3.2.
Detetores empregados em Cromatografia a
Gás
a)
Detetor de Condutividade Térmica (DCT)
O
sistema de detecção por diferença de
condutividade térmica consiste de dois filamentos (célula para amostra e
célula de referência), os quais fazem parte de uma ponte de Wheatstone
(Figuras 4.4a e 4.4b). Faz-se passar corrente pelos filamentos e estes perdem
calor para o gás de arraste. No momento em que a amostra atingir a
célula correspondente, o filamento perderá calor para a solução (gás de
arraste + amostra). Como a solução possui condutividade diferente, a
temperatura do filamento é alterada, o mesmo ocorrendo com a sua resistência
elétrica. Essa variação na resistência é medida pela ponte. Note-se que quanto
maior for a concentração do material analisado, maior será a variação na
corrente e portanto maior será o sinal (R = K.C).
IMPORTANTE ! Se a câmara do
detetor contiver ar atmosférico no momento em que o circuito for energizado
ocorrerá queima do filamento. Portanto, deve-se primeiro fazer circular o gás
de arraste.
Figura 4.4.a - Bloco
do Detetor de Condutividade Térmica.
b) Detetor de Ionização de Chama (DIC)
A
figura 4.5 representa o circuito eletrônico de um DIC. Rv é uma
resistência variável, cujo valor depende do número de partículas entre os
eletrodos. O efluente da coluna, ao passar entre os eletrodos, é ionizado. Nos
DIC, a fonte de ionização é a chama resultante da combustão de hidrogênio com ar (gases auxiliares). A
corrente contínua gerada pela fonte (fonte CC, Fig 4.5.b) é transportada do polarizador para o coletor (Fig 4.5.a) por impurezas existentes na fase móvel ou por
partículas de fase estacionária líquida arrastada pela fase móvel, por exemplo.
No amplificador existe outra fonte
de corrente, sendo esta variável e
de sentido contrário, permitindo assim zerar
a corrente resultante no circuito. Quando um componente da amostra atinge o
detetor, caso possua átomos de carbono
e átomos de hidrogênio,
entrará em combustão, sendo ionizado.
Com a ionização, aumenta a corrente saída do coletor, o que irá gerar uma
tensão (DV), a qual é ampliada pelo amplificador eletrométrico e enviada ao
registrador/integrador. Evidentemente, a sensibilidade do detetor dependerá da
facilidade relativa de ionização de cada componente da amostra.
Fig. 4.5.a-
Estrutura física de um DIC
|
c)
Detetor de Captura Eletrônica (DCE)
Embora
possuindo circuito semelhante ao de um DIC, o DCE, ao contrário daquele, mede a
queda de corrente quando da passagem de amostra pelos eletrodos (Rv).
Uma fonte de 3H-1 ou de 63Ni ioniza as
moléculas do gás de arraste (N2), liberando os elétrons responsáveis
pela corrente (corrente de fundo). Se uma substância capaz de absorver esses
elétrons passar pelo detetor, haverá uma queda na corrente, resultando num
sinal que também será amplificado e enviado ao registrador.
Aqui,
a sensibilidade do detetor depende da capacidade de absorção de elétrons por
parte dos diversos componentes da amostra.
Fig. 4.5.b- Circuito
eletrônico de um DIC / DCE
|
d)
Propriedades dos detetores
A Tabela 4.1 é
auto-explicativa e sumariza as principais propriedades dos detetores,
auxiliando no trabalho de seleção do detetor mais apropriado para uma análise.
O Apêndice 5 descreve outros detetores de uso menos extensivo, como o DNP.
Tabela 4.1 - Propriedades dos
principais tipos de detetores empregados em CFG.
PROPRIEDADES
|
DCT
|
DIC
|
DNP
|
DCE
|
Limite de detecção
|
1 ppm
|
100 ppb
|
0,1 ppb
|
0,1 ppb
|
Faixa de linearidade
|
104
|
107
|
104
|
102
|
Vazão da fase móvel
|
1-103
mL/min
|
1-200 mL/min
|
10-100 mL/min
|
10-100 mL/min
|
Quant. Típica amostra
|
1 - 40 mL
|
0,05 - 5 mL
|
1 - 5 mL
|
1 - 5 mL
|
Comp. Detectados
|
todos
|
orgânicos
|
nitrogenados e
fosforados
|
halogenados
|
Áreas de aplicação
|
uso geral
|
orgânicos
|
resíduos de
pesticidas
|
resíduos de
pesticidas
|
4.3.3.
Detetores empregados em CLAD
Os
detetores mais empregados em Cromatografia a Líquido de Alto Desempenho (CLAD),
embora existam outros tipos de detetores são:
a)
Detetores de índice de refração
À
semelhança do detetor de condutividade
térmica, o detetor de índice de refração é o mais antigo, menos sensível e o
único universal, dentre os detetores
empregados em CLAD. Baseando-se na diferença de índice de refração entre a fase
móvel e cada componente da amostra, conhecem-se dois tipos de detetores IR:
·
Os detetores
tipo deflexão utilizam como elemento
ativo um diodo capaz de gerar uma corrente contínua cuja intensidade é
proporcional ao ângulo de incidência
da luz que atravessa a célula (Figura 4.6). Ao passar pela célula analítica uma
substância com índice de refração diferente daquele da fase móvel, haverá uma
alteração no ângulo de incidência, resultando numa variação na intensidade de
corrente, que é proporcional à concentração dessa substância na célula e
consequentemente também proporcional à sua concentração na amostra.
Figura 4.6 -
Detetor de Índice de Refração tipo deflexão.
|
·
Os detetores tipo Fresnel baseiam-se no fato da luz incidente sobre o sistema
mostrado na Fig. 4.7 ser fracionada em dois feixes: uma parte da luz é
refletida e a outra parte é refratada. De acordo com a Lei de Fresnel, a
relação entre essas duas frações é função do índice de refração. Assim, ao
passar uma substância (transportada pela fase móvel) pela célula, altera-se o
índice de refração e portanto o percentual de luz refratada. Utilizando-se como
foto-detetor um diodo sensível à
intensidade de luz, a corrente gerada por este será alterada de um modo
proporcional à concentração dessa substância na amostra.
b)
Detetores de UV-VIS
Os
detetores de ultravioleta-visível (UV-VIS) baseiam-se na Lei de Lambert-Beer,
que estabelece uma relação linear entre Absorbância e Concentração:
A = e . l . c
onde l
é o caminho ótico (distância percorrida pela luz dentro da solução; espessura
da célula). A constante de proporcionalidade e
denomina-se absortividade molar. A
absorbância, por sua vez, é proporcional à transmitância,
fração de luz transmitida.
Quando
o conteúdo da célula (Fig. 4.8) é transparente
à radiação empregada (UV ou VIS), a transmitância é 100 % e evidentemente a
absorbância é ZERO.
Entretanto,
quando chega à célula uma substância que absorva essa luz, o sistema de
detecção mede a diferença em intensidade, gerando o cromatograma
correspondente.
Os
instrumentos mais comuns (e mais baratos) utilizam como fonte de radiação uma
lâmpada de mercúrio, cujo comprimento de onda principal (90 % do total da
radiação) mede 254 nm. Esses instrumentos, portanto, operam com um comprimento de onda fixo (e
único). A Fig. 4.8 representa um diagrama esquemático desse tipo de
instrumento. Como a região útil da radiação UV varia de 190 a 300 nm, é de se
esperar que mesmos os compostos que absorvem luz UV não venham a ser detectados
em um detetor do tipo fixo, ou que
sejam detectados com baixa sensibilidade. Para se conseguir uma varredura em
toda a região UV, é primordial, evidentemente, que a fonte de radiação (lâmpada
de deutério) possa emitir luz com todos os comprimentos de onda da faixa de
interesse (fonte não monocromática). Desse modo, o instrumento (UV variável)
necessita de um dispositivo que selecione um determinado comprimento de onda,
de modo a irradiar a amostra com uma luz monocromática. Esse dispositivo
chama-se “monocromador”. Para se operar na faixa visível (400-750 nm), emprega-se uma lâmpada de tungstênio.
Figura 4.7 -
Detetor de Índice de Refração tipo Fresnel.
|
Figura 4.8 -
Detetor de Ultravioleta fixo
|
Fonte: SCHULER Alexandre. Cromatografia. Pernambuco: UFPE, 2009.
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