Os adeptos das "usinas lixo-energia" prometem transformar todos os dejetos em energia, o que soa atraente, e reivindicam até créditos de energia renovável por conta disso! Mas há dois problemas.
Primeiro: o pouco de energia recuperada com a queima de resíduos é muito sujo, e o processo libera mais gases do efeito estufa do que a queima de gás natural, óleo ou carvão. De acordo com a agência de proteção ambiental americana (EPA), incineradores de lixo produzem 1355 gramas de CO2 por KW/hora; o carvão produz 1020; o óleo, 758; e o gás natural, 515.
Segundo: vale observar um quadro mais amplo. Quando se queima algo, isso significa ter que voltar a extrais, minerar, cultivar, colher, processar, finalizar e transportar um novo produto para substituir o que foi destruído. Tudo isso consome muita energia. Se o objetivo principal é conservá-la, faz muito mais sentido poupá-la de antemão, reutilizando e reciclando coisas.
Os custos com a implementação de incineradores em países industrializados chegam a 500 milhões de dólares. Enquanto isso, nos países em desenvolvimento, esse valor varia de 13 mil a 700 mil dólares. E a maior parte dos equipamentos dos países mais pobres jamais atenderia os requisitos instituídos pelas leis de segurança e saúde nos Estados Unidos e na Europa. No entanto, uma vez instalados, os incineradores são consumidores de capital e máquinas, e não de mão de obra, visto que abrem apenas cerca de trinta vagas de tempo integral.
Em contraste com os 500 milhões necessários para construir um incinerador dentro das leis de proteção a saúde e segurança, um centro de alta tecnologia para recuperação de materiais construído na costa oeste americana, custou pouco mais de 9 milhões. E mais: enquanto um potente incinerador queima em geral 2mil toneladas de lixo por dia, o centro administra 4 mil, das quais 40% são recicladas, além de proporcionar empregos a 250 pessoas. A diferença é ainda mais óbvia nos países em desenvolvimento, onde a reciclagem e a compostagem são menos mecanizadas e, portanto, necessitam de mais mão de obra.
Até o Banco Mundial admite que operar tais máquinas custam no mínimo o dobro do que se gasta com a implementação de aterros sanitários, embora continue a financiá-las em países em desenvolvimento.
Fonte: LEONARD Annie. A história das coisas. Rio de Janeiro: Zahar, 2010.
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